sábado, outubro 23, 2004

À descoberta do Metro

Não fui eu que disse:

"O site do Metro do Porto é simples, explicativo e eficiente. O Metro do Porto é tudo menos isso... é preciso ganhar coragem para viver a aventura real no terreno. O essencial é aprender na véspera. Para já fique a saber que o metro do Porto não tem bilhetes, só andantes. O Andante é um cartão que pode ser recarregado consoante as viagens ou o tempo desejável. Para que existe o Andante? Para nos esquecermos dele em casa e termos de pagar para comprar o novo. A validação do bilhete do Andante exige uma licenciatura comparável à de Física quantica, mas nem isso será suficiente para chegarmos a horas à Senhora da Hora. Porque ainda falta interpretar os mapas das estações (quem chumbou a Cartografia está perdido). Apesar de só uma das quatro linhas projectadas funcionar, os mapas actuais já incluem todas as possíveis ligações imaginadas para cada uma das estações, criando uma teia de eixos, entroncamentos e interfaces que é o início de uma bela enxaqueca. A compra do Andante é um acto de cerca de dez minutos de comprensão, 15 minutos de execução, mais trinta minutos de lamento pela aquisição do bilhete errado, e uma hora de pânico dentro da carruagem em transgressão, com os fiscais à perna. Existe uma linha de apoio, mas não garante o devido acompanhamento psicológico."

E não concordo!

Naquele dia de tempestade fui obrigada e desviar caminho porque o "túnel" estava encerrado. Seguia paralela ao meu local de trabalho mas separada por uma auto-estrada que não sabia como atravessar. A uns escassos metros de distância não fazia ideia como chegar ao destino bem ali à minha frente! Há quase 1 ano a trabalhar nesta zona e a única coisa que conheço é o trajecto pela VCI e a saída de ligação! Desleixo meu, bem sei. Mas esta cidade ainda não me despertou curiosidade suficiente para me atrair para o seu interior. Nem sequer de Metro que a travessa por inteiro e me daria uma orientação mais precisa. Se bem que depois de ler opiniões como estas, já tinha desistido mesmo antes de tentar!
Vejo o Metro quase todos os dias e quase sempre tenho de parar para o deixar passar. Nunca o tinha experimentado. Pois neste dia foi a minha salvação! Segui em frente e estacionei o carro perto de uma paragem, sem saber muito bem onde estava. Sabia que estava ali o Metro e isso bastava. Ele iria levar-me e trazer-me de volta. Foi desta certeza que mais gostei. O Metro tem esta capacidade de nos fazer sentir seguros, apesar de estarmos perdidos em qualquer canto desconhecido. Aqui ou no resto do mundo. Seguimos as linhas, planeamos ligações, descobrimos paisagens intermédias. E podemos sempre voltar atrás e começar tudo de novo. Temos a certeza de chegar.
Seria bom se nos pudéssemos orientar assim na vida... percorrer linhas seguras, com trajectos definidos, onde o nosso destino estivesse ao alcance de um Andante recarregável que nos desse a certeza de chegar!

sábado, outubro 09, 2004

Fotografia da alma

A máquina passou a acompanhar-me cada vez mais... passei a esperar pelo imprevisível, ganhei o gosto pela sorte do momento.
E também por isso noutras ocasiões consegui tocar a superficialidade... senti-la como um choque que nos abana. Mas afinal o que é que acabei de fotografar? Algo que nem sequer tive tempo de ver em pormenor! Tocar, pensar, parar a olhar... Deixei-me iludir pela primeira impressão de beleza, superficial, e foi isso que quis rapidamente captar. Mais rápido que apreciar. Para logo a seguir gravar mais outro momento, mais aquela paisagem, mais esta fachada, cada uma mais bonita que a outra. De repente senti-me numa corrida onde parecia que as coisas iam desaparecer se rapidamente não as gravasse. Como se o importante fosse obter o carimbo. A memória não era suficiente. E depois? Que faço com tanto deslumbramento? Olho de novo... da mesma forma... superficial, rápida. E fico fascinada pela beleza da imagem!

Mais tarde olho a colecção de carimbos e apago metade... os tais que gravei mas não vi. E guardo apenas aqueles que me despertam lembranças, que me acordam a alma com saudade. Os momentos onde o foco serviu não para captar deslumbres e reflexos... que o olho viu... mas sim para gravar momentos e imagens... que a alma verdadeiramente sentiu.

terça-feira, outubro 05, 2004

Deja-vu

Afinal a viagem foi curta... senti pouco. E pressenti que cada vez iria sentir menos. Não queria levar memórias... já as tinha... ou iria ter. Não queria acumular lembranças... já as tinha, ou iria ter.

As distâncias encurtam-se a cada Km de auto-estrada, os segredos desvendam-se em cada página de revista. Nada é novo, nem as sensações do que ainda não se viu. O mapa é a única coisa que parece transformar-se... torna-se familiar, pessoal. E passa a reflectir a imagem de cada viela.

Mas é muito pouco. E é por termos tanto que tudo passa a ser nada. O mundo passa a ser muito pequeno quando conseguimos atingir cada canto. Quando o que nos parecia longinquamente inacessível se revela à nossa frente como se fosse já ali. E é já ali.

Mas então... o que posso fazer para que cada canto se mantenha longínquo e inacessível? E ao mesmo tempo conhecê-los a todos e a cada um como se fosse o único no mundo?