quinta-feira, julho 31, 2003

Tudo é efémero...

Por que é que tudo tem que ser efémero? A vontade de fazer, o sonho de querer ser, o que nos move, o que nos apaixona, o que nos surpreende... a música que ouvimos vezes sem conta e que passou a fazer parte do passado, os sabores que se tornaram banais, os momentos que a memória transferiu para o álbum de fotografias, os projectos que deixaram de fazer sentido, as cartas que rasgamos sem querer reler, as paixões que deixamos apagar. Tudo termina... nada mantem a mesma intensidade. Porque tudo é efémero. Não conseguimos ser fiéis a nada. Só à mudança que existe em nós... só a nós mesmos.
Aprendemos a defender-nos do sentimento de perda. Já não queremos iniciar nada para não termos que ser espectadores do desmoronar da motivação. Não suportamos mais o reflexo da indiferença do nosso olhar. Porque a cada coisa nova que encontramos, passamos a criar um espaço que sabemos irá ficar vazio... abrimos uma janela por onde deixaremos de ver. Não queremos mais continuar a coleccionar tudo aquilo que tenha alguma probabilidade de se transformar em futuras memórias, por melhor que sejam. Não conseguimos olhar para trás e enfrentar todas as coisas que ficaram por fazer, por ver, por amar, por experimentar só porque de repente deixaram de fazer o mesmo sentido. Fomos nós que mudamos?
Não fazemos opções... não arriscamos escolhas.... não investimos em nada...não apostamos a alma, nem entregamos o coração. Não confiamos em nós. E procuramos...procuramos indefinidamente por algo que possa substituir a eterna insatisfação de nada nos preencher. Como é que conseguimos desligar esse temporizador que dita a longevidade dos sentimentos? Regulá-lo para que passe a contemplar o infinito.
O medo mascara-se de dúvidas. Sempre dúvidas. O desafio é acreditar no “para sempre”. O eterno nunca deixará de ser uma sombra que conseguiremos tocar... jamais...a única que é eterna.

domingo, julho 27, 2003

The dream is enough, isn´t it?

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Fernando Pessoa

quinta-feira, julho 24, 2003

A imensidão de pessoas...

A imensidão afasta-me e faz-me recuar... porque já há muitos, porque já foi tudo descoberto, porque deixou de ser novidade ou porque já foi tudo dito. Não gosto de ser diferente, mas gosto de ser das poucas.
Aqui acho que cheguei tarde de mais.

Há alturas em que queremos sentir-nos apenas mais uma gota de água no oceano. Outras em que o recusamos ser... e então preferimos abandonar o oceano a afogar-nos nele.


Não quero rosas, desde que haja rosas.
Quero-as só quando não as possa haver.
Que hei-de fazer das coisas
Que qualquer mão pode colher?

Não quero a noite senão quando a aurora
A fez em ouro e azul se diluir.
O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir.

Fernando Pessoa

Apenas pertencer...

Há coisas que gosto de admirar, apenas... momentos onde só quero ser espectadora, e dispenso qualquer papel. Há sonhos que gosto de sonhar mas não os quero viver.
Acho que este foi mais um desses momentos. A vontade não era de escrever, era apenas de pertencer...

Mais uma vez fui testemunha da minha própria coerência.


Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.

A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.

Dorme, dorme. dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.

Fernando Pessoa

Nada para dizer...

Pensei que isto dos blogs seria mais uma daquelas novidades com as quais nos entusiasmamos durante uns tempos e depois abandonamos... mas não. Afinal o entusiasmo não foi nenhum sequer. Enfrento agora o meu blog sem nada para lhe dizer... será que me cansei assim tão rápido de mim mesma? Ou talvez já me tenha dito tudo o que queria?

domingo, julho 20, 2003

O mesmo prédio... diferentes olhares III

Assim é o mundo dos blogs...

Um prédio com centenas de janelas.
O mesmo pátio vazio mas casas cheias. Portas fechadas. Ouvem-se uns aos outros e falam por entre janelas abertas, mas cada um sem sair do seu espaço. Sem autorização para ninguém entrar, apenas quem for escolhido e mesmo assim não entra... é projectado ou linkado. Um diálogo longo, em diferido. Temas escolhidos pela vontade do momento, pela liberdade do sentir. Há os vizinhos que todos conhecem e espiam... os que afastam as cortinas. Parece ninguém conseguir sobreviver sozinho mesmo. Por isso vivem nesta troca alheia de olhares e encontros, de descobertas e buscas, mas sempre por detrás do mesmo véu do espaço privado. Não saem dele, não descem ao pátio. Não se encontram no momento, só respondem a quem querem e o que querem, só ouvem alguns. Mas deixam-se ver por todos. Não se procura a sintonia nem a voz comum, procura-se apenas ser lido e ouvido; e inconscientemente ou não, um feedback que devolva a imagem e a certeza que se está vivo, ali.
Depois há os outros... os marginais, de janelas fechadas e cortinas corridas. Vivem no e para o seu mundo. Sem nada para dizer aos outros e sem nada para dizer a si próprios. Respiram o ar do seu espaço onde ninguém entra nem para espiar. Não querem ser como os outros, mas querem estar onde os outros. No mesmo prédio. Só por estar...
Existe o EU... por existir. Sem os outros. É-se eterno enquanto se quiser ser, único e reflexo de si próprio.

Assim é o culto do EU... assim é o mundo dos blogs.

O mesmo prédio... diferentes olhares II

Assim é um fórum...

Um prédio com centenas de janelas.
O pátio vazio. Cada um em sua casa mas de portas abertas. Conversas de interior, temas restritos mas comuns. Estão todos a descoberto. Entram e saem de territórios alheios sem pedir licença... instalam-se em partilhas e confrontos mais ou menos longos, num diálogo em diferido. O espaço nunca é verdadeiramente seu. As opiniões também não. Porque todos se vigiam. Procura-se ter voz ou apenas pertencer à voz comum. Há os líderes de opinião, os seguidores e os do contra. Há os que fazem daquilo um exercício de argumentação. Há os que lêem porque não sabem o que dizer, mas querem ter opinião. No final resta o que os uniu.
Existe o EU...mas porque os outros existem. É-se reflexo de um tema.

Assim é o culto da partilha... assim é um fórum.

O mesmo prédio... diferentes olhares I

Assim é um chat...

Um prédio com centenas de janelas.
Reunidos num pátio em encontros fortuitos e conversas banais. Alguns casais afastam-se num jogo de sedução, para não serem espiados. Um rodopio de entradas e saídas. Conversas curtas, interrompidas por um diálogo em directo. Temas variados, comuns ou não, estranhos, interrogados, mas sempre partilhados na hora. Procura-se a sintonia. O que existe é o momento, que se apaga na saída. Não ficam posts, mensagens, escritos, a recordação é a memória dos sentidos e dos sonhos. Há os que fazem parte do local, os que se conhecem, os que acabam de entrar, os que entram só para ver quem está; há os que sabem o que procuram, os que não querem encontrar, os que não sabem o que procurar...
Não existe o EU... existe o Eu a falar com alguém e existe o nós.

Assim é o culto do momento... assim é um chat.

sábado, julho 19, 2003

Dou comigo a pensar...

Afinal para que é que isto serve mesmo?

Pressa de nascer

Por que será que comecei a sentir uma certa pressa de me criar, desde que descobri a blogosfera? Que capacidade é esta de um blog nos dar assim tanta certeza da nossa existência? Parece que corria contra o tempo... para nascer! Como se o espaço fosse ficar saturado e não restasse um vazio para mim. Agora já existe.. e é meu, só meu! Falo comigo como nunca falei ao espelho.
Nunca tive muita paciência para diários... nos diários era eu. Aqui sou eu e mais alguma coisa... essa coisa que leio, escrevo, a quem respondo, com quem converso.
Não preciso escrever nada se não me apetecer... porque sei que este espaço é meu e o tempo eu comando.
Ainda estou para descobrir este mistério dos blogs...