sexta-feira, junho 13, 2008

Contos

Aproximaram-se de uma lagoa transparente a tristeza e a fúria para se banharem em mútua companhia.

A fúria, que tinha pressa (como sempre acontece com ela), pressionada pela urgência sem saber bem por quê, banhou-se rapidamente e ainda mais rapidamente saiu da água. Mas a fúria é cega ou, pelo menos, não distingue claramente a realidade. Por isso, apressada ao vestir-se, colocou o primeiro vestido que encontrou na margem. Aconteceu que aquele vestido não era o dela, mas o da tristeza... E assim, vestida de triszteza, foi-se embora apressada.

Muito indolente, muito serera, disposta sempre a ficar no lugar onde estava, a tristeza terminou o banho e, sem pressa, ou sem consciência da passagem do tempo, com preguiça e lentamente, saiu da lagoa. Na margem, deu-se conta que a sua roupa não estava lá. Mas se há coisa que não agrada à tristeza é ficar nua, por isso vestiu a única roupa que ali havia: o vestido da fúria.

Conta-se que, desde então, muitas vezes nos encontramos com a fúria, cega, terrível e agastada. Mas se nos dermos tempo para olhar melhor, apercebemo-nos que esta fúria que estamos a ver não passa de um disfarce e, por detrás do disfarçe da fúria, na realidade está escondida a tristeza...

terça-feira, junho 10, 2008

Encruzilhada



Há alturas em que nos zangamos com a vida... e amuamos.

Tudo parece vazio, nada nos faz genuinamente sorrir, sentir, amar...

Em que direcção apontamos os nossos objectivos?

Após anos e anos de investimento... tantos sonhos, outras tantas desilusões.

É este o futuro que quero para mim?

Sobram-me as memórias...

do que poderia ter sido.